Dez 03 2004

CRÓNICA RADIO PAX (3/12)

Publicado por as 8:56 em Crónicas

Por motivos vários, estive ausente deste espaço durante 3 semanas, tempo suficiente para que muita coisa tivesse acontecido e que não quero deixar passar em branco.
Tivemos um congresso do PSD no qual a única novidade foi ver alguns militantes social-democratas, outrora fortes opositores de Santana Lopes, serem agora fiéis seguidores do santanismo, esquecendo as cobras e lagartos que disseram do senhor. Já estamos habituados: nesta coisa da política a vergonha é pouca e raros são aqueles que conseguem, com humildade, ser coerentes com os seus pensamentos e comportamentos. O Congresso serviu para ratificar uma decisão oligárquica e o debate de ideias foi mandado à fava, pois o que interessa é pensar nos interesses próprios e quem quiser (os outros) que se preocupe com o País. Algumas vozes ainda se manifestaram contra este estado de coisas, mas pouco havia a fazer. Não se toca nem belisca num Presidente de partido que, por acaso, chegou a 1º Ministro. Sem dúvidas que este é o pior PSD a vir ao de cima. Mas tenho esperanças que seja doença passageira.
Em campo oposto, mas com prática idêntica, o Comité Central do PCP nomeou Jerónimo de Sousa para substituir Carvalhas e os congressistas nem pestanejaram. Mesmo com voto secreto, há uma fé inabalável e não se vislumbra que os comunistas acompanhem, num futuro próximo, a evolução dos tempos e do Mundo. Ao PCP não interessam os resultados eleitorais. O que interessa é o marxismo-leninismo, o operariado e a luta de classes e pouco importância tem se estes desígnios tenham a ver ou alguma coisa digam aos portugueses.
Por fim, e permitam-me que acrescente finalmente, percebeu-se que o Governo de Santana Lopes sofria de várias fragilidades, não inspirava confiança e que, apesar da sua legitimidade formal, o mesmo dava mostras de uma certa inaptidão para continuar algumas das políticas iniciadas por Durão Barroso.
Podemos agora andar à procura das razões que levaram o Presidente da República a decidir-se pela dissolução do Parlamento, e à hora em que escrevo esta crónica desconheço essas mesmas razões, podemos tentar endossar culpas para este e para aquele mas, deixem-me que vos diga, não terei dúvidas que o novel Comissário Europeu terá que arcar com o ónus daquilo a que chegámos. A forma como entregou, de forma dinástica, a presidência do Partido e consequentemente o Governo a Santana Lopes, não augurava um futuro sorridente. Apesar de considerar ser o PSD o partido que melhores quadros tem para proceder a reformas e por isso o mais apto para a governação, não acreditei que a sucessão fosse a melhor metodologia para prosseguir o caminho traçado pelo governo liderado por Barroso. O resultado aí está. À crise económica junta-se a crise política e, mais uma vez, Portugal vai ficar parado, vai atrasar-se na Europa e não se vislumbra que possa tão cedo enveredar pelos caminhos do progresso e desenvolvimento.
O que aí vem não vai ser bom e lá teremos, mais uma vez, que apertar cintos e passar dificuldades.
A classe política, como escreveu Cavaco Silva, precisa reformar-se. Para que os bons políticos substituam os maus. Desejo que não demore muito tempo.

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