Out 04 2004

Célia -40-

Publicado por as 21:56 em Célia

Vai à caixa do correio”, pareceu-me uma mensagem misteriosa, pois Célia nunca ousara escrever-me mails e parecia-me impensável que se desse ao trabalho de comprar envelopes selados (certamente desconhece que neste País também já temos essa opção), escrevesse uma carta e a enviasse pelos correios. Saberia ela o meu endereço?
Não acreditei em nenhuma das hipóteses e foi por isso que, desinteressadamente, descarreguei todo o lixo electrónico. Obviamente que não me enganara. Célia nunca me escreveria um e-mail.
Nada lhe poderia perguntar, pois os nossos contactos via telemóvel aguardavam sempre pela ocasião propícia.
Foi também sem qualquer esperança que abri a caixa do correio postal.
A surpresa veio logo no próprio envelope, carregado de símbolos e emoções. O endereço estava correcto e, apesar da ausência de remetente, tinha a certeza que aquelas só poderiam ser linhas escritas pela mão de Célia.
Com ansiedade fui para casa e abri a carta.
Desculpou-se pela forma mas pediu-me atenção ao conteúdo.
Aquelas 3 páginas vinham carregadas de tudo o que se pode esperar de uma mulher como Célia.
Palavras fortes, sem hesitação. Uma descrição crua da sua relação com uma colega de liceu. Quase me matava quando revelou o nome da companheira que lhe fez descobrir a sua bi-sexualidade.
Afinal, aquilo que eu pensara ser um triângulo, era agora uma vida com várias faces.
Estranhamente, e seguindo um impulso incontrolável, liguei para Mariana.
Estava à espera da tua chamada”.

Não consegui balbuciar mais do que um “como é que isso aconteceu?”.

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