Set 03 2004
CRÓNICA RÁDIO PAX
Estamos regressados deste interregno de crónicas semanais. Um interregno estival, de calores intensos que, aqui na nossa cidade, se fazem sempre sentir nesta época.
Agora retorna o tempo fresco, voltam estas notas do dia.
Regressa também a actividade política, apesar de ela, durante este Verão, não ter estado parada. Percebeu-se que os bastidores andaram muito movimentados.
Mas deixemos essas coisas de bastidores e falemos das coisas que estão à nossa frente, aquelas com as quais encalhamos diariamente.
Tenho vindo a ler, com bastante interesse, as crónicas que um vereador da Câmara de Beja tem escrito e onde relata a sua visão sobre a nossa cidade.
Também tenho ouvido e lido as opiniões de pessoas que lhe estão politicamente próximas.
Mas como sou um cidadão daqueles que anda na rua, vai as compras, passeia com as filhas e se senta numa das poucas esplanadas da cidade, também vou ouvindo o que dizem os bejenses anónimos.
E cheguei a uma conclusão.
Existem em Beja duas cidades distintas. Apesar de ocuparem o mesmo espaço físico, estas duas Bejas são antagónicas, não se entendem, mas coabitam alegremente.
Uma das Bejas é aquela que o vereador nos narra.
Uma cidade atraente, cheia de espaços verdes, com um centro histórico vivo e animado, cheio de lojas, umas mais tradicionais que outras.
É uma cidade que está livre dos poluentes automóveis, com uma boa rede de transportes públicos, daqueles movidos a energia alternativa.
Os parques de estacionamento abundam e assim, nessa Beja, as pessoas não precisam de trazer os seus carros para o miolo da cidade.
Nesta cidade, a cidade do vereador, as ciclovias servem para que a população, ávida de uma boa condição física, circule com as suas bicicletas, mesmo durante as horas de trabalho.
As ruas da Beja do vereador estão bem arborizadas, não há falta de repuxos e a água abunda, para refrescar os transeuntes ressequidos nas horas de calor e pelo constante pedalar nas bicicletas, também estas postas à disposição pelo vereador.
Esta é a cidade de um sonho. A cidade do vereador.
Há depois uma outra cidade.
Onde o trânsito entope as entradas e saídas em horas de ponta.
Onde as vias recém construídas são estreitas e nuas.
Nesta outra cidade há dezenas de cães vadios que sujam e incomodam quem nela vive.
Nesta cidade, o centro histórico está moribundo e as lojas que arriscam em abrir as suas portas, têm que utilizar métodos espanta insectos, pois estão sempre às moscas.
É nessa cidade que há ciclovias onde se estacionam carros particulares e viaturas de carga e descarga. É também aqui que a água falta. Nas fontes e nas torneiras.
É nesta cidade que a Piscina, por sinal bem bonita, tem uns balneários desprovidos do mínimo de condições e onde, pelo cheiro, se percebe que a higiene é pouca.
É também aqui que os canteiros dos novos bairros são considerados, certamente para as estatísticas, como espaços verdes.
A cidade de que vos falo, é uma cidade que há quase 2 décadas não tem uma sala de espectáculos digna desse nome, mas se publicita como pioneira em eventos culturais.
É nesta cidade que os seus habitantes, e vamos lá saber porquê, passam os tempos livres a vaguear nas grandes superfícies comerciais.
Nesta cidade, constroem-se prédios só até ao 3º andar, sinónimo do bom urbanismo, mas esquecem-se os arruamentos e os acessos a esses blocos de habitação.
É aqui, nesta cidade, que o Castelo, a que chamam ex-libris, vive do passado e de fantasmas, pois ali nada se passa e tudo já passou.
São estas as duas cidades onde habitamos.
A primeira vive no sonho de um vereador. A segunda é onde eu vivo.
Diga-me, caro leitor, onde vive você?
3 de Setembro de 2004 às 10:54
Rendo-me aos argumentos de que não vivo na cidade dos sonhos. Pois, pois…
Mas Beja continua a ser Beja. Adoro Beja e esta é a cidade que quero pra mim, na esperança de que tudo mude e se transforme pouco a pouco na dos sonhos.
3 de Setembro de 2004 às 11:46
Nem numa nem noutra, vivo em Lisboa!
3 de Setembro de 2004 às 12:09
A cidade dos sonhos, sek
3 de Setembro de 2004 às 12:39
ainda bem que vivo noutro local.
longe dessas confusões, onde não se pode berlaitar à vontade (é a velha censura).
já agora visite um blog diferente (para melhor).
http://www.berlaitadas.blogspot.com
3 de Setembro de 2004 às 14:04
Esta discussão é sempre animada, como temos verificado, e dá panos para mangas. Mas, independentemente das posições mais ou menos divergentes e mais ou menos apaixonadas que nós próprios temos em dado momento, eu cheguei a uma conclusão. A de que, apenas prestes a partir, me apercebo do amor pela cidade onde nasci. Mesmo gostando de umas coisas e detestando outras.
Abraços
3 de Setembro de 2004 às 14:57
Quem não vive em Beja, quem não conhece Beja não tem legitimidade para dizer que ainda bem que cá não vive. Vou visitar as berlaitadas mas, meu senhor…cada um na sua terra e no seu lugar. Garanto-lhe que seja lá onde fôr que vive, não é em nada melhor que Beja. Basta que Beja é a minha cidade. Eu penso que a caiadora tem razão, quando saímos é que percebemos o quanto amamos este lugar…E pedra…Beja é muito!!!E óbviamente que cada um tem uma opinião diferente, todos queremos mais…e isso é bom, não é? a ambição é saudável, desde que não seja a qualquer preço.
3 de Setembro de 2004 às 14:57
Esqueci-me de assinar. Sou o Pulo do Lobo.
7 de Setembro de 2004 às 23:02
Caros Amigos!
Já que se fala da tristeza que sente ao partir deixando a velha Pax Julia (adoro chamá-la assim…) para trás, vou falar-vos por experiência própria. Estou fora, mas não passa um dia sem que gostasse de estar dentro, de estar lá, de pisar merda de cão cada vez que meto o pé fora de casa, de olhar pela janela e ter contacto com uma das vistas mais belas que há, descer um pouco o olhar e ter contacto com uma das mais horriveis,…ou seja viver a cidade com todos os males e todos os bens que ela porporciona.
Beja é a minha casa, é lá que me sinto bem, é lá que me sinto alguém… enfim é lá que me sinto!!!
Nas duas visões da cidade que se falam, vereador quer votos por isso só vê qualidades, eu por outro lado só quero poder vivê-la, por isso vejo também os defeitos, e tal como o nosso melhor amigo, defeitos não lhe faltam…
Um abraço cheio de saudade para a
VELHA PAX JULIA!!!