Set 13 2004
CÉLIA -39-
Peguei na máquina fotográfica e enfiei alguns rolos de baixa sensibilidade na mochila.
O Sol ardia e estava a pico. Nessa hora em que as sombras se procuram e não se descobrem.
Hesitei entre o mundo rural ou alguns dos pormenores da nova urbe.
Senti o apelo dos campos queimados de ouro, em que a terra sufoca de Verão e as árvores gemem de calor.
Contra as regras, vou fotografar àquela hora.
Precisava de sentir o suave embate do obturador, olhar a planície pela lente polarizada.
Os céus estavam nus e o azul era aquele e único que conheço.
Tentei descobrir uma nova silhueta, um novo recorte.
Saio do carro, deixo a porta aberta. Precisava que o som me acompanhasse e me envolvesse.
Uso o zoom e faço chegar até mim aquela copa, defino-lhe a folhagem, a cor transforma-se em tons de cinzento, tenho o contraste que quero, sei como vão ficar escalados o preto e o branco.
Quando atinjo o ponto de disparo, oiço o telefone no carro.
Tento abstrair-me dessa máquina e concentrar-me naquele momento fulcral.
Disparo. Fico-me por alguns segundos a apreciar o que havia registado.
Vou para o carro, e enquanto meto a água à boca, consulto o aparelho.
Uma mensagem.
Consulto e não vejo texto.
Só uma imagem. De um Sol.
Debaixo daquele abrasamento, apeteceu-me viver um eclipse.
13 de Setembro de 2004 às 14:37
Por sorte tens equilíbrio.Apesar de visita recente( e agora constante ) neste blog , pude perceber através dos textos e de outros blogs neste relacionados, a dificuldade das pessoas em optar pelo simples.
13 de Setembro de 2004 às 14:47
Via agora que a dada altura me perguntaste porque é que eu disse que o sol era muito mais que a lua…Acabaste de dar a resposta…Um sol…que te disse tudo.
Já agora, o sol é completo, é cheio, quando aparece é sempre lindo. Traz com ele a vontade de sair, percorrer campos…amara…tudo. A lua tem fases..umas vezes minguante…outras meia…nem sempre é completa.
O sol dá-nos uma vontade imensa de sorrir…de partilhar momentos, dá-nos alegria….A lua por vezes dá-nos vontade de chorar…remete-nos por vezes para a “nossa” vontade de solidão…de estar sós…e faz-nos cair algumas lágrimas de tristeza…Embora admita que as noites de intenso luar são lindas e propicias ao amor. Por tudo isto é que disse que, em minha opinião, o sol era muito mais que a lua. Não pretendi dizer nada mais do que isto. Dei-te a resposta agora porque só agora vi a tua questão. E aui, porque sei que não és visitante do Pulo. Esta foi a maneira de te responder.
13 de Setembro de 2004 às 17:12
@pulo – sou frequentador dessa casa desde a primeira hora. não deverias fazer juízos de intenção sem teres a certeza do que afirmas.
13 de Setembro de 2004 às 19:24
Excelente texto
13 de Setembro de 2004 às 23:16
Gostei do teu blog. Vou cá vir outras vezes e não acredito na censura de que falam outros lá pra baixo, pois já vi aqui comentários menos felizes que não foram apagados. Dá-lhes uma pazada valente.
14 de Setembro de 2004 às 9:50
Eu já pedi desculpa. Peço novamente: Desculpa João. Não quiz ser injusta. Mas temos, por vezes, momentos de menor lucidez. Agora que estou desalojada e com um quartinho alugado na casa da malta e no monte, procuro um novo apartamento. Quero-o bem decorado, bem arranjadinho. Com um ar muito intimo e acolhedor. Justo e verdadeiro. Dar-te-ei novidades na altura certa.
Entretanto vou continuar a passear-me na praça.
A.D.
14 de Setembro de 2004 às 10:43
@a.d. – a praça está aberta para quem a queira visitar. Volta sempre que quiseres. No hard feelings.
14 de Setembro de 2004 às 14:31
Gostei muito deste texto.
E gostei da tua coragem em paralisar por intantes o mundo real, para poderes gozar o sonho, a paisagem.
E gostei como encaras o regesso ao mundo real, ainda com vestígios do sonho, do momento.
Gostei mesmo.
Abraço,
15 de Setembro de 2004 às 0:26
PArece que há gente a comentar as célias e que não percebe o essencial.
Segue em frente, João. A tua escrita encanta-me.
Bjo.
G.