Ago 18 2004

Célia -36-

Publicado por as 22:15 em Célia

Pediu-me para que, numa deslocação à capital, lhe sugerisse um local para uma conversa.
“Preciso de ti. Preciso de estar contigo”.
Entrámos no café, um igual a tantos outros, para tentarmos perceber o que se nos tinha passado. Sentámo-nos frente a frente. Queríamos que aquele lugar fosse só nosso e que nenhum de nós desviasse o olhar um do outro.
Tarefa nada fácil.
Logo ao entrar pareceu-me ouvir um silêncio sussurrante. Deveria estar enganado. Naquele local ninguém me conhecia e Célia seria cara nova por ali. Ou até talvez por isso. Estaríamos a ser intrusos?
Que gente estaria interessada em nós?
Numa mesa um jovem lia com ar sôfrego um livro do José Eduardo Agualusa. Sim, era o “A substância do amor”. Recordei alguns dos contos que ali se misturavam com crónicas. Assaltou-me uma imensa curiosidade em saber que conto estaria aquele jovem a ler. Lembro-me de ter lido aquela coisa terrível de que “o amor é apenas o princípio do ódio, o amor é uma vertigem”, mas a sua face mostrava um sorriso apaixonante. Não podia ser aquele conto. Talvez fosse aquela linda história de “no Rossio, à espera de um táxi, quando o telefone tocou numa cabine ao lado” e ele atendeu. Ah, que linda história essa em que “havia muito Sol do outro lado”. Esbocei um sorriso.
Célia acordou-me destes pensamentos, desafiou-me um olhar terno e rasgou-me com um “João, como é que eu posso devolver-te o teu sorriso?”.
A resposta teria sido sem protocolos, não fosse a chegada dos cafés que nem me lembrava de ter pedido.

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Uma Resposta a “Célia -36-”

  1. Anónimo diz:

    Não podes ficar imóvel e perdido em pensamentos.
    Caso contrário, nunca mais voltarei a ver esse teu sorriso. E tu sabes como é verdade.
    Beijo.
    🙂