Ago 02 2004

CÉLIA -30-

Publicado por as 0:05 em Célia

Ao virar a página daquele caderno, reparei no que me parecia o texto de uma carta. A entrada não enganava. Um esclarecedor “Olá amor!” só poderia significar uma comunicação. Fechei o caderno. Não me podia autorizar a violar um espaço que sabia ser mais do que privado. Estavam ali os seus desejos mais íntimos. O relato cru de emoções e sentimentos. Tudo escrito na 1ª pessoa.
Entreguei-lhe o caderno.
Fitou-me profundamente e perguntou-me: “Queres ler essa carta?”
Achas que devo?
Tinha curiosidade em saber como é que Célia se relacionava com a pessoa que amava. Ao mesmo tempo assaltava-me um medo de que aquelas palavras me provocassem algum desconforto.
“Lê, e peço-te silêncio”.
Prometo.
Abri de novo o caderno no sítio onde me parecia que estaria aquela carta.
De dentro do caderno solta-se um pedaço de papel que me cai aos pés. Apanho-o e consigo ler: “Olá amor! Escrevo-te estas pequenas linhas para te dizer simplesmente que te amo. És o oásis do deserto onde vivo. De todas as palavras que te escreva, estas são as mais sinceras. Um beijo”.
Guardei o papel no meio do caderno e preparava-me para ler a carta quando Célia, sem hesitar, me diz:
“Não vale a pena leres a carta”.
Fechei o caderno.

A letra do manuscrito que me caíra aos pés não era a de Célia.

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