Jul 02 2004

CRÓNICA RÁDIO PAX

Publicado por as 9:03 em Crónicas

A escolha de Durão Barroso para Presidente da Comissão Europeia desencadeou no nosso País uma série de reacções negativas quando, a meu ver, Portugal deveria estar orgulhoso de ter um seu Primeiro-Ministro a desempenhar as mais altas funções no seio da União Europeia.
A maior parte dessas reacções deve-se, sem dúvidas, a motivações puramente partidárias e com intuitos puramente eleitoralistas.
Vejamos: quando Durão Barroso negociava a ida de António Vitorino para a Presidência da Comissão Europeia, havia quem dissesse que o Primeiro-ministro não estaria a dar todo o seu empenho para que o socialista fosse desempenhar tão alto, honroso e digno cargo.
No momento em que é o próprio Durão Barroso a ser nomeado, o cargo deixa de ter valor, já não tem valia para os interesses nacionais.
Que falta de coerência.

Comandada pelos panfletários bloquistas, a oposição começou a exigir eleições antecipadas, fazendo pressões sobre o Presidente da República através da convocação de manifestações à porta do palácio presidencial e provocando uma algazarra no País, como se aqui se vivesse nalguma ditadura ou onde as instituições democráticas não funcionassem.
Se fossem esses os senhores a determinar os destinos do País, certamente que as manifestações estariam proibidas e a democracia seria uma miragem. Por muitas roupagens que queira vestir, o Bloco de Esquerda convive mal com a Democracia e a sua política não passa do “estar sempre contra”.
As razões que levam a oposição a reclamar por eleições antecipadas só têm um fundamento: os resultados das europeias do passado dia 13 de Junho. Tivesse a coligação ganho as eleições e a oposição nem queria ouvir falar em antecipadas.

Adiante!

A sucessão de Durão Barroso dentro do PSD parece, pois, ser a matéria que agora mais interessa tratar, pois dela vai depender a indicação do futuro Primeiro-Ministro. Isto, caso o Presidente da República, como espero, não venha a convocar as eleições agora reclamadas pela oposição.
O PSD é um Partido democrático e não passará pela cabeça de ninguém que os seus militantes se limitem a ser os yes-men das decisões das cúpulas do Partido.
Coabitam no PSD várias sensibilidades e formas de estar. (Não são os Congressos do PSD os únicos que podem trazer alguma novidade à vida política nacional?)

É por demais evidente que cabe agora ao PSD o bom senso de propor ao Presidente da República uma solução de continuidade. O PSD foi o Partido mais votado nas últimas eleições legislativas, o equilíbrio de forças na Assembleia da República não foi alterado, pelo que só tem cabimento que seja o PSD a formar o novo governo.
Tal como a solução que o Presidente da República vai encontrar para resolver a crise política, também a solução que for encontrada dentro do PSD não será do agrado de todos os sociais-democratas. Ainda bem que assim é! É sinal de que vivemos em democracia.
Não necessito de repetir aqui que não sou santanista, que nada tenho a ver com o seu suposto populismo e nada me garante que Santana Lopes venha a ser o Primeiro-Ministro de que Portugal necessite. Preferia que a sucessão de Durão Barroso se fizesse em Congresso Extraordinário e que o novo líder social-democrata fosse então indigitado Primeiro-Ministro. Mas esta seria uma visão puramente partidária.
O País não pode ficar à espera e pendente de um congresso que, na melhor das hipóteses, só se viria a realizar em Outubro, ocasião em que o Governo deve ter pronto o Orçamento de Estado e as Grandes Opções para 2005 preparadas para serem discutidas na Assembleia da República.
Por isso, e aqui distancio-me das posições que algum baronato social-democrata vem declarando, a sucessão mais natural dentro do PSD estará encontrada, se o seu primeiro vice-presidente assumir as funções de Presidente. Sendo uma teoria de difícil execução, estas funções não são obrigatoriamente coincidentes com as de Primeiro-Ministro. Tenho, no entanto, confiança que os órgãos do PSD saberão encontrar a melhor solução para a crise que agora se vive.
Com uma certeza: seja ela qual for, será sempre julgada pelos portugueses em actos eleitorais, em eleições livres e democráticas, e não em pseudo-manifestações de intuitos pouco claros.
Eu também cá estarei para fazer o meu julgamento.

crónica igualmente publicada no Notícias Alentejo.

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4 Resposta a “CRÓNICA RÁDIO PAX”

  1. MAD diz:

    Oh nikonman, não achas que a incoerência está na promessas feitas tanto nas eleições para a Câmara de Lisboa, como para as legislativas?
    Por mais forte que seja a razão nunca é suficientemente forte para abandonar um projecto a meio.
    Não digo que não fico orgulhosa por terem escolhido o Durão. É um cargo que só tem que nos deixar orgulhosos, mas e as promessas feitas? nomeadamente a de que ia renovar contrato com os portugueses? e se por acaso for o Santana o escolhido? e as promessas feitas ao eleitorado alfacinha? os lisboetas votaram em quem? só espero que haja bom senso e acredito que o vai haver. As eleições era a melhor solução. Deixem o eleitorado escolher.

  2. André diz:

    Sem falar em Partidos e partidarismos e em simpatias políticas. Falemos de democracia. E no nosso sistema democrático, quem tem a última palavra sobre esta questão é o PR. Dizemos sempre que ele não serve para nada, pois aí está uma importante decisão a tomar. Continuando a falar de democracia: quando se vota nas legislativas, vota-se num partido, num programa político, mas também se vota num determinado cabeça de lista sabendo, que, a ganhar, será ele o PM. Na opção sem eleições teríamos no Governo 2 líderes que representam fracções marginais do eleitorado PORTUGUês. Democracia?

  3. Manuel diz:

    O melhor bom senso teria sido o de Durão, se tivesse recusado o convite. Cegou completamente, e agora vamos todos sofrer com isso. Se houver antecipadas e o P.S. ganhar, o Ferro tratará de nós. Outra hipótese, sair a sorte grande a Santana, e este ficar como 1º Ministro, dá-me vontade de mudar para Espanha. Acreditei no Durão em tempos, mas o Santana nunca me enganou.
    Durão não devia ter aceitado o convite. Levava a sua governação até ao fim em nome da Pátria e de todos os Portugueses e depois se veria se valeu a pena o aperto do cinto. Isto para quem precisa de apertá-lo pois sabendo que as vendas da Mercedes-Benz superaram as da Fiat… pois é…

  4. AMM diz:

    Penso que todos deviam ler o que o MIguel Sousa Tavares escreveu sexta-feira no Público.

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