Abr 05 2004
SO IST DAS LEBEN!
Sabia que ela tinha o gosto da escrita. E pela Literatura. Que já havia publicado algumas letras, em forma de estudos – ou ensaios, quando ainda frequentava a Faculdade de Letras. Foi aqui que a conheci. Ou melhor, foi na Universidade que a reconheci.
Sempre lhe apreciara as formas e o pisar elegante nas passadeiras da praia. Era então uma jovem com ar rural, mas percebiam-se-lhe intenções urbanas.
Quando a reencontro nas aulas de Introdução aos Estudos Linguísticos, destacava-se por cuidar da pele e dar retoques na pintura, isto perante o plenário, que eram as nossas aulas na Universidade. Nada a incomodava, muito menos as permanentes citações a Saussure, sim o Ferdinand, que nos dava cabo da cabeça. Tal como ela.
Curiosamente, as suas notas nos testes suplantavam largamente a média geral (que já era bastante alta).
Foi numa aflição em Alemão que ela se socorreu de mim.
Fizemos logo um contrato: os trabalhos de Língua Alemã (em grupo, pois claro) seria eu a fazê-los. Escreveria o seu nome como tendo participado na elaboração da tarefa.
Em troca, o meu nome constaria nas aflições das Literaturas.
Com esta estratégia, víamo-nos com menos frequência.
Era por vezes o comboio que me trazia para o Sul, e a ela mais para sul ainda, o local onde fazíamos um balanço da semana.
Os tempos correram – fugiram!
Eu virei-me para o lado que me dava mais conforto e ela desapareceu.
Foi com grande surpresa que, há dias, lhe reconheci o perfume, uma mistura de eucalipto e pinheiro.
Teria voltado às origens?
Sem tocar no açúcar do café que estava na sua frente, desenrolou a sua vida, mexendo porém a colher, como se esse movimento fosse o espelho da sua vida.
Reconhecemo-nos em vários pormenores.
Eu, no entanto, fiquei boquiaberto quando me descreveu a sua actividade de assessora da administração de uma grande empresa…alemã. E que estava a residir na grande metrópole berlinense.
Não lhe perguntei, mas certamente que guarda carinhosa e agradecidamente cópias dos trabalhos (em grupo) que fizemos na Faculdade.
So ist das Leben!
6 de Abril de 2004 às 0:43
Pois… e tu em Beja…
Um abraço,
Francisco Nunes
6 de Abril de 2004 às 11:06
Sou bejense e leitora assidua do Praça!
Vim só parabeniza-lo por o blog e dizer-lhe que há sempre momentos na vida, que mesmo não nos arrependendo das escolhas que fazemos, perguntamo-nos sempre como teria sido, senão tivessemos ido “para o lado que nos dava mais conforto”!
Vou continuar a vir aqui, é sempre um prazer lê-lo!
6 de Abril de 2004 às 11:54
Obrigado, Lena!