Abr 04 2004

A AMIGA

Publicado por as 19:08 em Intimidades

Desde que a conheci, sempre assim foi. Inconstante. Imprevisível.
Saltava de compromisso em compromisso.
Isso obrigava-a a ir de mesa em mesa, de café em café.
O primeiro emprego também não a segurou. O segundo não sei se ainda o mantém.

Depois, com o tempo, corria pela noite à procura de um desconhecido que lhe oferecesse um ombro, um carinho ou, como ela dizia, uma malícia (tinha algo a ver com carícia, mas era diferente).
Nunca encontrou ninguém à sua medida.
Os obstáculos que criava, faziam-na fugir. Mas a culpa não era dela.
Com o aparecimento dos telemóveis, a amiga ficou ainda mais estranha. As mensagens, os toques, a permanente solicitação para novos encontros.
Enquanto trabalhava, era-lhe proibido andar no frenesim das chamadas, mas descobriu a forma de, durante essas horas, estar em contacto com o seu mundo. Colocava discretamente o aparelho entre os seios, em modo de vibração, e assim ela vibrava à chegada de cada mensagem ou toque não atendido. Sentia-se feliz, vibrava, porque sabia haver alguém a pensar nela.
Agora, soma as vibrações aos contactos com os messengers na net. Comprou, ou pediu emprestada, uma webcam. Vive refugiada nas vibrações de um smile, de um kiss ou de uma rosa que lhe oferecem.
Liga e desliga! E sempre que sabe que estou por ali perto, com receio que a veja, desliga-se. Desconhece as tecnologias. E volta a ligar-se.
E eu sento-me a olhar a sua fotografia, com pena de a ver pendurada numa linha.
Todos temos uma linha. A da amiga é assim.

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2 Resposta a “A AMIGA”

  1. mago diz:

    🙂

  2. MªClarinda diz:

    Gostei, gostei muito deste teu texto da Amiga,palavras para explicar o porquê, não teriam sentido,pois é cá dentro que sinto o que não tem força para vir para fora.
    Boa Janeca.
    JInhos