Abr 20 2004

Célia -15-

Publicado por as 16:31 em Célia

Quando me passou os seus dedos pelo cabelo, senti uma enorme vontade de lhe perguntar mil e uma coisas.
Estranho, este meu súbito desejo. E quantas perguntas teriam a resposta que eu queria? Quantas me seriam negadas?
E o que é que tudo isso importaria?
Decidi-me por enfraquecer as resistências. Deixar que o momento fosse aquilo que nós quiséssemos.
Estendida na sua beleza, pareceu-me ver-lhe um raio de felicidade. Julgo que comungávamos aquele instante com a intensidade de um apetite reprimido e subitamente libertado.
Deixámos de falar enquanto nos cruzávamos nas nossas fantasias.
Sentíamos a delícia de um encanto e de um silêncio que não queríamos desperdiçar.
Contemplando-a, admirei os seus olhos infinitamente femininos.
Antes que partisse, quis oferecer-lhe uma frase que não tivesse o sabor de um sumário ou de uma conclusão. Há momentos em que a solidão deixa de ter sentido, balbuciei-lhe.
Quando se despediu, a expressão tornou-se mais sedutora e, como se fosse num primeiro beijo, segredou-me: “Não te inquietes, porque até as noites têm horizontes”.

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